O terreno de implantação da Escola está localizado entre duas fortes pré-existências, a saber: à noroeste, nos “fundos” do lote, encontra-se a comunidade Alto do Saldanha, importante precursora da ocupação popular no bairro Parque Bela Vista, anterior ao desenvolvimento urbano da região. Junto ao acesso do lote, a sudeste, está a Avenida Antônio Carlos Magalhães, implementada na segunda metade do século passado, que secciona o tecido por meio de suas duas vias, com três faixas cada, e limita a transposição horizontal de pedestres na altura do lote a uma passarela aérea. A inserção do projeto é feita de modo a ponderar essas variáveis e comungar estas pré-existências com vistas a viabilizar um dos pontos focais do Termo de Referência desse certame: a “permeabilidade democrática” desta escola como “edifício privado de interesse público”

O partido arquitetônico concorre na ideia de concentrar para liberar, isto é, congrega programas polares entre si para diluir a percepção de ocupação junto ao térreo, propondo uma imagem diferente das implantações presentes ao longo da avenida ACM, onde a maioria dos demais edifícios ocupa integralmente a projeção junto ao solo. A apreensão do conjunto é pautada por três corpos distintos: Pórtico Horizontal contíguo ao acesso, um Plano Suspenso que marca o sopé do morro à esquerda e, por fim, aos fundos, a Torre-Escola à direita. Entre estes, o jardim tropical da mata atlântica baiana “desce” desde talude ao nível do térreo, preenchendo o vazio. Este arranjo propõe uma leitura mais leve do conjunto, em um sítio exíguo em relação ao programa e assegura autonomia entre as partes.

Integralmente modulado na dimensão mínima de 125cm, habitual aos mais diversos elementos constitutivos da construção civil, a proposta fundamenta-se na pré-fabricação e industrialização como alternativa de assegurar controle de desempenho técnico, agilidade logística na obra e, por fim, redução drástica do volume de resíduos. O sistema construtivo preconiza uma solução única para todos os três corpos principais e subsolos: lajes “pi” em concreto protendido pré-moldadas com 250cm de largura. Feitas as escavações e sistema de drenagem para abrigar os programas do subsolo, serão concretadas in loco cortinas de contenção para as garagens e áreas técnicas, assim como quatro empenas - um par que dará apoio ao Pórtico de Acesso/Auditório e um par de ancoragem para a Torre-Escola. A partir desta etapa, a construção dos edifícios dar-se-á seguindo uma lógica de montagem, sugerindo que o trabalho seja sequencial e não-destrutivo, isto é, sem comprometer processos já executados.

Salvador-BA | Brasil

Pórtico de Acesso | Ocupando inteiramente a extensão transversal do lote, o pórtico de acesso assinala a presença do SENAC desde à rua, em uma escala compatível com a dos transeuntes. Térreo e horizontal, este edifício cumpre as funções de triagem do público, endereçando usuários dos programas autônomos para suas respectivas localizações; conectando estudantes até a torre, onde estão concentrados os programas especializados; convocando o público geral para se apropriar de seus espaços francos e desimpedidos. Uma sutil operação topográfica viabiliza a distinção de acessos de pedestres e veículos, elevando-se a cota do nível térreo em aproximadamente 75cm da calçada, as rampas de descida para o subsolo e garagens ficam dissimuladas junto às empenas laterais do pórtico, no nível da via de acesso, enfatizando seus trinta e dois metros de abertura para fruição pública.

Torre-Escola | Desenhada com o intuito de materializar a “luva arquitetônica” insinuada pelo termo de referência, a torre-escola pressupõe flexibilidade como alicerce para abrigar os programas previstos e imprevistos ao longo de toda a vida útil do SENAC. Caracterizada por uma planta com dimensões de 15x20m, desimpedida de quaisquer obstáculos físicos à livre ocupação, estas lajes programáticas associam-se a um satélite infraestrutural anexo - medindo 3x20m - que abarca todos os equipamentos de suporte aos espaços de ensino e atividades, a saber: circulações verticais, escadas de emergência, “shafts”, “backbones”, sanitários, copa e depósitos. Este esquema preconiza um sistema aberto de organização espacial, onde leiautes, distribuição programática e (des)associação de pavimentos é a mais diversa e mutável possível. Dois níveis sob a projeção da Torre-Escola se interceptam com os demais corpos programáticos. No térreo, abaixo do volume vertical, o controle de acesso relaciona-se com o foyer, que marca o ingresso no auditório - sob o Plano Suspenso. A um nível acima do térreo, a proposta oferta uma varanda onde localiza-se a cafeteria escola, aberta para os dois sentidos longitudinais do sítio, ela conecta-se horizontalmente com a cobertura do Pórtico de Acesso: um solário sobre espelho d’água, próprio à descompressão e à multiplicidade de ocupações associadas à cafeteria.

Plano Suspenso | Uma laje elevada a um metro e meio anuncia sutilmente a presença de mais um programa âncora do projeto - o auditório. Semienterrado em relação ao térreo e interligado ao foyer por uma transição rampada, o conjunto do auditório compõe uma imagem de comunhão entre o talude vegetal descendente e a horizontalidade dos programas térreos. Um plano suspenso que, quando em uso, ilumina a parte posterior do sítio como um farol, convidando os usuários a descobri-lo.